Sistema Límbico: O Sistema das Emoções
A definição de saúde vai muito para além do estado de ausência da doença, ou até mesmo do bem-estar físico, mental e social descrito pela Organização Mundial de Saúde. A natureza subjetiva desta definição desencadeia a necessidade de atribuição de um significado mais amplo ao construto de saúde, que aqui entenderemos como um estado de razoável equilíbrio entre o indivíduo e a realidade que ele próprio experiência. E este caminho de atuação e posicionamento no mundo é inegavelmente guiado pelo nosso comportamento emocional.
A emoção pode ser definida como uma condição complexa e momentânea que surge em experiências de carácter afetivo, provocando alterações em várias áreas do funcionamento fisiológico e psicológico, preparando as pessoas para a ação (Frijda, 2008).
Mas como é que tudo se processa a nível neuronal? O Sistema Límbico constitui um mecanismo integrador de informações internas e externas do passado e do presente, profundamente e intimamente relacionadas através da elaboração das atividades somáticas precisas e diferenciadas. Apresenta-se como um centro de convergência para uma via comum de impulsos representativos dos meios externos e internos, proporcionando uma permanente adaptação do organismo às contínuas mudanças, desafios e stress do meio ambiente. Entendido como “o painel de controlo emocional do indivíduo”, é formado por uma combinação de estruturas anatómicas que ficam localizadas na parte central do cérebro, entre o hemisfério cerebral e o tronco encefálico. Estas estruturas constituintes, embora não sejam ainda consensuais, possuem funções variadas, que incluem questões ligadas às emoções e sentimentos, à modulação da memória e aprendizagem afetiva. O próprio conceito de “sistema límbico” sugere um sistema neural funcionalmente unificado, mas, como não é exatamente esse o caso, tem sofrido várias críticas na comunidade científica. Assim, e independentemente da denominação, podemos pensar no sistema límbico de modo coletivo, como o conjunto de circuitos neuronais relacionados com a experiência e expressão emocional, sem perder de vista que eles estão, em última análise, integrados funcionalmente.
Durante muito tempo se pensou que os pensamentos e perceções precediam a experiência emocional. Desta feita, a informação sensorial seguiria primeiro para o Neocortex para ser analisada, e só depois era encaminhada para o Sistema Límbico. Contudo, os neurocientistas descobriram um circuito em que o “cérebro emocional” é mais rápido que o “cérebro pensante”, refletindo as reações emocionais e a atividade cerebral que ocorre antes que tenhamos tempo de analisar racionalmente a situação.
Estabelecendo um paralelismo entre o “Sistema das Emoções” e a Rede Rodoviária Nacional, diríamos que dependendo das emoções, as vias neuronais tanto podem seguir em Autoestradas como em Estradas Nacionais.
Emoções como o medo ou a raiva, são processadas diretamente na Amígdala. A informação sensorial chega ao Tálamo e já não passa pelo Neocortex para ser processada. Ela sobe pelos Colículos e dirige-se para a Amígdala, para que esta estrutura dê significância emocional instantânea à informação, e emita um sinal às restantes áreas cerebrais. A acuidade sensorial é aumentada, os pensamentos complexos são bloqueados, o sistema cardiovascular é ativado, e é sinalizada a necessidade de segregação de norepinefrina. De igual forma, alguns recursos são deslocados do Neocortex para outros locais, de modo a facilitar a sobrevivência (mecanismo de luta ou fuga). É a esta experiência emocional que envolve circuitos rápidos, que poderemos chamar a “Via Verde” da emoção.
Só quando estamos perante emoções mais complexas e subjetivas, como sejam o embaraço e a apreensão é que são ativados circuitos mais longos, através dos quais o Neocortex analisa racionalmente a situação e só depois a comunica ao Sistema Límbico. Perante pensamentos que originam determinadas emoções, o percurso de processamento pode levar vários segundos ou mesmo minutos, como numa “Estrada Nacional”. Essa interpretação é um reflexo da história de vida do individuo, das suas experiências individuais, sociais e, portanto, da forma como ele percebe o mundo. Funcionando como um filtro reflexivo, introduz a possibilidade de variação na dimensão e intensidade dos padrões emocionais preestabelecidos e produz, com efeito, uma modulação na maquinaria básica das emoções.
Estas considerações apenas tocam o extenso universo que o estudo das emoções abarca. Muito há ainda a investigar relativamente às variabilidades individuais da emoção, ao esclarecimento entre a normalidade e os seus desvios, à saúde, bem-estar e regulação emocional. Os estados emocionais transformam-se em sintomas quando não expressos reconhecidos e compreendidos, pelo que honrar os próprios sentimentos e cultivar emoções positivas, é tão importante quanto uma alimentação saudável e a prática de exercício físico regular. A harmonia resultante da forma como lidamos com os estímulos externos e internos será o ingrediente fundamental para minimizar o seu impacto sobre a saúde do indivíduo.
Dr.ª Helena Azevedo – Psicóloga