Existem fases do Luto?
O luto é um processo interpretado por diferentes autores, clínicos, e estudiosos, o que se traduz num sem número de teorias e métodos de intervenção. No entanto, todos concordam que o luto é um processo de dor e perda. A incapacidade de resiliência, aceitação ou superação dessa perda é então vista como um luto patológico.
Mas como podemos ver essa diferença? Posso aceitar a morte do meu familiar ou amigo? E isso o que significa? Deixo de o lembrar? Posso ficar angustiado quando me lembro dessa pessoa? Significa que não ultrapassei a perda dessa pessoa?
São muitas as teorias que apresentam diferentes fases do luto, todas aceitáveis a luz da sua perspetiva.
Alguns autores defendem 4, 5, 9 fases de luto, mas na sua maioria são unânimes no que concerne à oscilação entres estas fases e que o processo de luto típico não é sequencial, mas sim dinâmico e construtivo.
Existem perspetivas que defendem que a pessoa deve manter um laço com a pessoa falecida e por isso reprimir pensamentos e sentimentos negativos que causam o sofrimento; existe também a ideia de que o luto é um trabalho de aceitação em que se devem consentir e experienciar as emoções e sentimentos negativos; e ainda os modelos que apresentam o luto como um processo de várias fases (Silva, M. D. F., 2004).
A ideia base mais importante é que este processo, fase ou fases, não deve criar um sofrimento excessivo ou incapacitante por um grande período de tempo, pois então estamos a falar em luto patológico.
Existem alguns “momentos” ou fases comuns a muitas perspetivas como por exemplo:
Numa primeira instância, em que a pessoa sabe da notícia da perda do seu ente querido e reage a esta normalmente com choque, aflição, choro, recusa. Poderá ocorrer uma fase de procura da pessoa que faleceu, sonhos em que esta aparece, uma necessidade de rever a pessoa que partiu.
Depois existem outras fases em que a pessoa pode sentir raiva ou revolta pela situação e até a procura de culpados. Outro período, é a fase depressiva, de tristeza, de entorpecimento, pois o choque passa e a pessoa em luto começa a confrontar-se com a realidade. Depois da desorganização, tristeza e isolamento, numa última instância, a reorganização e aceitação, fase em é mais fácil expressar sentimentos e aceitá-los como vividos e presentes e lidar com eles. No entanto, e embora seja o processo mais comum, nem todos reagem da mesma forma e é muito importante sublinhar que estas instâncias são mutáveis, podem variar, podem avançar num determinado momento e retroceder no seguinte, além de “saltar” fases (Basso e Wainer, 2011).
Se estes processos, sentimentos ou emoções persistem no tempo, causam incapacidade na pessoa, no seu bem-estar geral ou na sua capacidade de gerir o seu dia-a-dia, então a procura de um profissional de saúde mental é imprescindível. Em terapia, o psicólogo poderá ajudar a entender, trabalhar e aceitar esses sentimentos e emoções que o impedem de viver devido a uma situação de luto.
Bibliografia:
Silva, M. D. F. (2004). Processos de Luto e Educação. Tese de mestrado. Instituto de Educação e Psicologia de Braga – Universidade do Minho. Braga.
Basso, L. A. & Wainer, R. (2011). Luto e perdas repentinas: Contribuições da Terapia Cognitivo-Comportamental. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 7(1), pp. 35-43