Autismo: A importância do diagnóstico precoce e os seus sinais
O Autismo é uma perturbação do neurodesenvolvimento de diferentes etiologias (causas), na qual o processo de desenvolvimento infantil encontra-se alterado, por vezes de forma muito severa. Tendo em conta a atualização das terminologias, é definido como Perturbação do Espectro do Autismo, deixando para trás definições como “Asperger” (que era uma vertente “menos grave” do autismo), salientando assim a presença desta única síndrome, com a diferença de que os défices apresentados em cada criança diferem na sua severidade, gravidade ou intensidade, num espectro portanto. Existem nesta síndrome características comuns em que os diferentes sistemas de diagnóstico se baseiam nos seus critérios e que devem estar presentes para um diagnóstico efetivo, correspondendo de uma forma geral a três domínios: interação social, comunicação verbal e não-verbal e comportamento e/ou interesses restritivos e repetitivos.
Por ser um processo de desenvolvimento alterado, e sendo possível detetar numa fase muito precoce do desenvolvimento (geralmente entre 1,5 a 3 anos de idade, dependendo da sua manifestação) é por isso também muito importante a atuação sobre este processo numa fase precoce de vida – recorremos por isso à Intervenção Precoce (0 – 6 anos).
Tendo em conta que aprendemos através da aplicação e repetição das aprendizagens, entende-se que não estimulando as capacidades em défice normalmente presentes na criança com autismo, que esta não se desenvolverá quando o seu cérebro ainda está numa fase de grande plasticidade e “absorção” de informação. Os primeiros anos de vida são por isso cruciais.
Dentro dos três domínios em défice no autismo, começa-se pelo contacto ocular na interação social: este não está tão presente e normalmente é um dos primeiros sinais de alerta, uma vez que pode ser detetado no momento da amamentação, logo nos primeiros meses de vida, onde a relação do bebé com a mãe se desenvolve num momento partilhado. Também dentro deste domínio: a criança por natureza procura mostrar ao adulto o que explora, tenta trazê-lo para a brincadeira, procura essa atenção e aprende com a interação. Brinca também de “faz-de-conta”, o jogo simbólico, começando muitas vezes por jogos associados às atividades que vêem os adultos fazerem em casa. Em crianças com autismo, estas brincadeiras não surgem durante o seu desenvolvimento, tendo estas tipicamente brincadeiras sozinhas, sendo estas muito restritivas e repetitivas, não procurando a atenção do adulto nem realizando jogo simbólico.
Outro aspeto é o da exploração, principalmente na primeira infância, nos primeiros 3 anos de vida. A criança, curiosa por natureza, explora, mexe, põe na boca, cheira e manipula. Uma criança com autismo não demonstra esta natureza de forma tão exploratória mas sim tipicamente mais restritivo num ou outro objeto.
Também a chamada pelo nome e ausência de resposta: referimo-nos a olhar, procurar, reagir, principalmente nos primeiros anos, que é um reflexo importantíssimo para a segurança da criança – no caso de chamada de atenção em situação de perigo por exemplo, em que a reação típica da criança será parar e olhar para o progenitor.
Por último, o toque e o choro: essencialmente associados a momentos de carinho, a criança com autismo não aprecia o toque forte como um abraço ou “colinho”. Dependendo da gravidade pode ir de reações de choro ao abraço apertado até ao simples toque. Em casos mais graves de alterações sensoriais, também barulhos e/ou luzes fortes podem ser bastante destabilizadores para uma criança com autismo.
Entendendo que os sinais podem ser visíveis precocemente, mas estando presente e podendo não ser frequentes ou de pouca gravidade, pode sempre recorrer a ajuda profissional para a interpretação destes sinais. Quanto mais cedo se avaliar e intervir, maior a eficácia da intervenção, já que estas capacidades podem ser intervencionadas de forma precoce, intensiva e direta, minimizando assim as suas consequências na vida adulta da criança, ajudando-a a tornar-se independente e autónoma no seu dia-a-dia.
Dr.ª Vanessa Carvalho – Neuropsicóloga