Síndrome de Burnout: os sinais iniciais da Perturbação Ocupacional

Nos últimos anos, o stress ocupacional tem sido uma área muito debatida no domínio da investigação
científica, devido aos custos e efeitos ao nível individual e organizacional.
Sabia que de acordo com a Agência Europeia de Segurança e Saúde no Trabalho, em 2013 o stress era já o
segundo problema de saúde relacionado com o trabalho mais frequentemente reportado na União Europeia,
logo a seguir às perturbações músculo-esqueléticas? Os números são de facto impressionantes e têm vindo
sempre a aumentar: de acordo com o Mental Health at Work Report (2017), três em cada cinco colaboradores
(60%) experienciaram problemas de Saúde Psicológica no ano anterior devido ao trabalho. Quase um terço
(31%) foi diagnosticado com um problema de Saúde Mental, sendo a Depressão e a Ansiedade os diagnósticos
mais comuns. Em Portugal, esta tendência revela que 59% dos trabalhadores referem experienciar stress
ocupacional no local de trabalho e 62% consideram que existe má gestão do mesmo (EU-OSHA, 2013).
Genericamente o conceito de stress ocupacional corresponde a um padrão de reações emocionais, cognitivas,
comportamentais e fisiológicas experienciadas quando as exigências do trabalho excedem as capacidades do
trabalhador para as controlar e gerir (Gomes et al., 2008). Tais reações provêm de diferentes causas, podendo
apresentar natureza organizacional, intra ou interpessoal. Repercutindo-se de forma insidiosa nos
profissionais, gera-se lentamente, sobretudo pelo domínio dos fatores de risco psicossociais, particularmente
aqueles que se associam à ausência de fronteiras entre o trabalho e o lazer, assim como a dificuldade em
equilibrar a vida pessoal, familiar e profissional.
Analisando os resultados de investigações internacionais, os autores têm descrito os potenciais efeitos
negativos do stress ocupacional na saúde e no bem-estar quer dos profissionais (por exemplo, em termos da
baixa satisfação (Blegen, 1993), perda de salário, queixas físicas e psicológicas diversas e consequentes gastos
adicionais na saúde (Cooper et al., 2001)); quer para o empregador e organizações (absentismo, presentismo,
diminuição da produtividade e da qualidade do trabalho, aumento do erro humano, conflitos, violência e
degradação do clima institucional, rotatividade dos colaboradores, custos com despesas de saúde, etc. (Borda
& Norman, 1997)).
Tem sido comummente aceite que uma dimensão mais negativa e disfuncional do funcionamento individual
tende a surgir como resposta ao stress ocupacional crónico – o Burnout- que passou a integrar inclusivamente
a nova classificação internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde, em janeiro de 2022. De um
modo geral, este problema evidencia-se pelo fato do profissional sentir que os seus recursos para lidar com
as exigências colocadas pela situação laboral estão esgotados (Maslach & Schaufeli, 1993). A apresentação
conceptual desta síndrome expressa-se evolutivamente em três diferentes dimensões: exaustão emocional,
despersonalização e perda de realização pessoal. A exaustão emocional caracteriza-se pela sensação de não
poder dar mais de si aos outros (Alvarez et al., 1993). É uma situação em que os recursos emocionais estão

esgotados (Maslach & Jackson, 1981). A despersonalização aconteceria porque o sujeito para se proteger dos
sentimentos negativos que o acompanham, isola-se, evitando relações interpessoais, desenvolvendo uma
atitude despersonalizada para com os clientes e para com os seus colegas (Delbrouck, 2006). A redução de
realização pessoal traduz-se num sentimento de inadequação pessoal e profissional (Queirós, 2005). Este
sentimento, pode ser mascarado pela sensação paradoxal de omnipotência, ou seja, perante a ameaça de se
sentir incompetente, o profissional redobra os esforços no sentido de dar a impressão, perante os que o
observam, que o seu interesse e dedicação são inesgotáveis (Kalbers & Fogarty, 2005). Assim, a perturbação
ocupacional é o resultado de um longo processo e representa um risco não só para o próprio trabalhador, mas
também para os seus colegas, uma vez que aparenta ser “contagiosa” – os profissionais tendem a transferir a
tensão psicológica para os membros da equipa com os quais interagem (Westman & Bakker, 2008).
Mas como saber se estamos próximos de atingir o nosso “limite”? Quais os sintomas iniciais desta perturbação
aos quais deveremos estar atentos?
Segundo Grosch e Olsen, (1995) o Burnout manifesta-se através de múltipla sintomatologia, mais
concretamente: Sintomas fisiológicos (alterações do apetite e do sono, fadiga constante, falta de energia,
tremores, dores de cabeça, tensão muscular, suores frios, palpitações e aumento da suscetibilidade a doenças
físicas por fragilidade do sistema imunitário); Sintomas psicológicos (irritabilidade, impaciência, frustração,
mau humor, depressão, ansiedade, diminuição de autoestima, pessimismo, culpa, dificuldades de
atenção/concentração e perda de memória); Sintomas comportamentais (perda de entusiasmo, atrasos no
trabalho ou saídas antecipadas, faltas consecutivas, isolamento, aumento da ingestão alimentar e abuso de
substâncias); e Sintomas clínicos (cinismo face aos clientes, alheamento durante o serviço, hostilidade, etc.).
No fundo, sendo o Burnout o efeito incapacitante de uma exposição prolongada a condições de stress no
trabalho, as causas de stress ocupacional já atrás referidas, são também as causas deste fenómeno. Do mesmo
modo, as intervenções perante o stress ocupacional serão aquelas que possibilitarão prevenir ou
intervencionar também o desenvolvimento deste quadro sintomático. Assim, se pensa padecer de alguns dos
sinais aqui descritos, não exite em procurar um profissional de saúde para um diagnóstico e tratamento
efetivos.
Só garantindo a proteção e promoção da saúde a TODOS os trabalhadores através de ambientes de trabalho
saudáveis e com cobertura por Serviços de Saúde Ocupacional de qualidade, será possível criar “forças de
trabalho” do mais alto nível.

 

Dr.ª Helena Azevedo,Psicóloga