O que é a Neuropsicologia?
A Neuropsicologia é uma especialidade da Psicologia que faz a ligação com a Neurologia. É uma área focada nas relações da estrutura e funcionamento cerebrais com o comportamento humano. Com foco na neurociência cognitiva, a neuropsicologia frequentemente atua no estudo de funções executivas superiores, mas não deixa de lado as emoções em geral, como a agressividade e a impulsividade.
Segundo o psicólogo Alexander Luria (1981), a Neuropsicologia é a área específica da Psicologia que tem como objetivo a investigação do papel de sistemas cerebrais individuais em formas complexas de atividades mentais.
Apesar de sua importância, a Neuropsicologia é uma disciplina relativamente jovem. Nasceu e desenvolveu-se de acordo com o crescimento do conhecimento científico sobre o funcionamento cerebral. Apenas no final do século XX, é que a Neuropsicologia ganhou maior reconhecimento, sendo os anos 90 conhecidos como a “Década do Cérebro”, uma vez que o progresso das técnicas de neuroimagem possibilitou a confirmação das interações entre as funções cognitivas e as áreas cerebrais.
O papel do Neuropsicólogo
O Neuropsicólogo dos dias de hoje, é um profissional que atua em diversos espaços, desenvolvendo atividades como o diagnóstico, a reabilitação, a orientação com a família e trabalho multidisciplinar.
Os principais locais onde o Neuropsicólogo é solicitado incluem as instituições académicas (investigação e ensino), hospitais (avaliações pré e pós-cirúrgicas), tribunais (avaliações e perícias), clínicas (avaliação, reabilitação e investigação) e atendimento ao domicílio (reabilitação).
A Neuropsicologia tem um histórico grande de estudo de pessoas que tinham transtornos e sequelas que envolviam o cérebro e a cognição. Ainda hoje a grande parte da população que procura um Neuropsicólogo vem encaminhada por Psicólogos, Psiquiatras e Neurologistas. Na sua grande maioria, quem procura o Neuropsicólogo, são as pessoas que sofreram algum tipo de transtornos e/ou lesões, no entanto existe uma pequena percentagem da população que procura o Neuropsicólogo por preocupações de desempenho cognitivo, como por exemplo, um esquecimento, ou uma falta de concentração nas atividades do dia-a-dia, gerando assim uma sub-área na Neuropsicologia – a “Neuropsicologia Preventiva”.
As áreas de atuação da Neuropsicologia podem então ser divididas em 3 grandes grupos: a neuropsicologia clínica (para o diagnóstico), a reabilitação (para o tratamento) e a investigação e ensino:
- A área de atuação mais conhecida é a da Neuropsicologia Clínica, ou seja, a aplicação do conhecimento neuropsicológico na identificação e no apoio do tratamento da lesão ou da doença, geralmente no cérebro, que causam défices cognitivos e/ou psicológicos.
Na prática, o neuropsicólogo identifica e quantifica lesões neurológicas que alteram as diversas áreas do funcionamento dos pacientes.
Exemplos de aplicações são nas avaliações do impacto de perturbações genéticas diversas, como alterações cromossómicas como a Síndrome de Down ou até no Autismo, Défices de Aprendizagem ou Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção, nas demências como a de Alzheimer, na preparação das cirurgias de epilepsia, no estudo das disfasias e nas avaliações de sequelas de traumas cranianos (TCE’s) e acidentes vasculares cerebrais (AVC’s).
Com importante implicação prática, todas as ações da Neuropsicologia Clínica estão relacionadas com a realização de avaliações neuropsicológicas completas de pacientes adultos e infantis. Sendo fundamental para o diagnóstico, a avaliação possibilita a elaboração de um plano de tratamento baseado em evidências, o estabelecimento de prognósticos e a realização da reabilitação neurológica.
Para o estudo dos problemas atuais do paciente, podem ser selecionadas várias estratégias de avaliação.
A maior parte das estratégias envolvem a utilização de instrumentos – é através do uso destes instrumentos (testes, baterias, escalas) padronizados para avaliação das funções cognitivas, que o Neuropsicólogo estuda o desempenho de habilidades como:
- Atenção,
- Perceção,
- Memória,
- Linguagem,
- Funções executivas,
- Raciocínio,
- Abstração,
- Aprendizagem,
- Processamento da informação,
- Visuoconstrução,
- Emoções e
- Funções motoras.
Este diagnóstico tem como objetivo recolher os dados clínicos que irão auxiliar na compreensão da extensão das dificuldades e explorar os pontos fortes que cada patologia provoca no sistema nervoso central de cada paciente. A partir desta avaliação Neuropsicológica é possível estabelecer tipos de intervenção, de reabilitação individual e específica para indivíduos e/ou grupos de pacientes.
Outra estratégia que pode ser também utilizada é a interpretação de recursos como a neuroimagem (Tomografia Computorizada – TAC ou Eletroencefalograma – EGG) . A avaliação neuropsicológica não está restrita ao início, elas também são realizadas em tempos de seguimentos distintos, para acompanhar a evolução da doença ou a eficácia dos tratamentos.
No final de cada avaliação clínica, os resultados são apresentados sob a forma de um relatório neuropsicológico.
O neuropsicólogo pode também ser solicitado para perícias ou para consultor em processos forenses e médico-legais.
- Reabilitação (tratamento) – Com o diagnóstico é possível realizar as intervenções necessárias para o paciente, para que possa melhorar, compensar, contornar ou adaptar-se às dificuldades atuais. Estas intervenções podem ser no âmbito do funcionamento cognitivo, ou seja, no trabalho direto com as funções cognitivas (memória, linguagem, atenção, etc.) ou com um trabalho muito mais ecológico, no ambiente de convivência do paciente, junto dos seus familiares, para que ajudem no processo.
O neurospicólogo atua ainda com equipas multidisciplinares, instituições académicas e profissionais, promovendo a cooperação na inserção ou reinserção destas pessoas na comunidade quando possível, ou ainda, na adaptação individual e familiar quando as mudanças nas capacidades do paciente forem mais permanentes ou a longo prazo.
- Investigação – A investigação na Neuropsicologia envolve o estudo de diversas áreas, como o estudo das cognições, das emoções, da personalidade e do comportamento sob o enfoque da relação entre estes aspetos e o funcionamento cerebral.
Para as investigações, o uso de testes neuropsicológicos é um recurso utilizado. Outra técnica que muito tem contribuído nas Neurociências e com grande especificidade na Neuropsicologia é o uso da neuroimagem funcional por Ressonância Magnética (MR), o Eletroencefalograma (EGG), a Tomografia Funcional por Emissão de Prositrões (PET) e ainda a Tomografia Computorizada por Emissão de Fotão Único (SPECT) que permitem mapear determinadas áreas relacionadas a atividades específicas, como por exemplo o recordar de listas de palavras durante o teste.
Fica então claro que a Neuropsicologia é um campo de trabalho e de investigação, de parceria da Psicologia e das Neurociências, que continua a avançar e a contribuir de forma única para a compreensão do modo como pensamos e agimos no mundo.