Baby-blues ou Depressão Pós-Parto?

Existe uma conceção global de uma situação (imaginária) relativamente ao nascimento de uma criança, no entanto, a maior parte das mulheres, após o nascimento do filho, vivencia uma série de sentimentos contraditórios relativamente à imagem ideal de uma mãe tranquila, acolhedora e compreensiva (Moraes & Crepaldi, 2011). Esta contradição pode ser ultrapassada ou desenvolver-se numa patologia. O aumento da sensibilidade da mulher durante e após o parto, nos primeiros anos do bebé, ressalta sentimentos e influências relativas à relação da recém-mamã com a sua própria mãe, assim como influencia toda a relação com o bebé. “Do ponto de vista psicológico, o nascimento de um bebé representa ainda o final de uma jornada e início de outra, já que a mãe deixa de ser apenas filha para ser mãe, o casal passa da díade para a tríade” (Moraes & Crepaldi, 2011, p. 62). Estas situações implicam modificações intra e interpessoais na mulher, gestão de conflitos internos, inúmeros receios, o mais forte: não estar à altura da responsabilidade. Numa situação “normal”, ou seja, na maioria das mães, passam pelo quadro chamado de baby-blues ou tristeza puerperal. O que é o baby-blues? Este estado emocional é caracterizado por um período esperado e transitório de instabilidade emocional, choro sem motivo aparente, tristeza súbita e transitória, introversão, irritabilidade e cansaço. Ocorre por norma entre o 2º e o 5º dia após o parto, devendo desaparecer até ao final do 1º mês após o nascimento. As causas são múltiplas e complexas: o stresse do fim da gravidez, o parto, alterações hormonais, e do ponto de vista psicológico, uma desorganização no ego materno, ou seja, quase um despojar da mãe quanto às suas necessidades, para que possa estar mais atenta às das do bebé. O blues é como que uma preparação da mãe para a aprendizagem para saber lidar, compreender e atender as necessidades do bebé (Moraes & Crepaldi, 2011). Depressão pós-parto… quando surge? A depressão pós-parto (DPP) surge quando o blues não desaparece e prolonga-se além dos primeiros meses vida do bebé, tornando-se cada vez mais intenso e limitante. Exige intervenção terapêutica uma vez que afeta a mãe, o bebé e toda a vida familiar e não melhora de forma espontânea e sem orientação. Atinge cada vez mais mães e estima-se que represente entre 8% a 25%. Entre vários autores, são apontados vários sintomas da Depressão Pós-Parto (Moraes & Crepaldi, 2011, p.63): – desânimo profundo – desinteresse do mundo externo – diminuição da auto–estima – humor deprimido – irritabilidade – choro frequente – falta de energia – capacidade diminuída para pensar e concentrar-se – perturbações alimentares e do sono – sentimentos de desamparo e desesperança – sensação de não dar conta do bebé – sentimentos de inutilidade ou culpa – pensamentos recorrentes de morte – manifestações psicossomáticas: cefaleia, hemorragias, infeções, fissuras mamárias e dificuldades na lactação, entre outros. Apesar de ser uma patologia com expressão significativa na população de mães, ainda é um tema tabu e muitas vezes silenciado até dentro da própria família. As responsabilidades e preocupações recaem sobretudo sobre as funções maternas e a necessidade de as executar corretamente. Tratamento Num contexto e situação que “deveria” ser de felicidade e que é de grande exigência dos cuidados ao bebé, as mães dificilmente procuram ajuda para si mesmas. Os sintomas vão-se fazendo sentir e piorar e o tratamento passa a ser urgente (Bydlowski, 1997 cit in Moraes & Crepaldi, 2011, p.65). O acompanhamento psicológico torna-se um espaço para a escuta, para a mãe rever e analisar os elementos importantes desde a gravidez e o parto, ajudando-a a elaborar e reestruturar os conflitos, a lidar com o bebé e com a maternidade em todas as suas exigências. Na prática clínica vê-se uma necessidade das mães falarem e serem ouvidas para darem sentido à sua experiência e assim encontrarem um alívio podendo ser também cuidadas (Moraes & Crepaldi, 2011). A terapia psicológica permite diminuir o estado depressivo materno, melhorar as estratégias adaptativas para enfrentar e lidar com a nova situação, favorecendo uma reorganização do pensamento da mãe (Moraes & Crepaldi, 2011). Se vive uma situação de baby-blues ou DPP, não sinta vergonha de experienciar estes sentimentos e toda a angústia inerente, e procure ajuda psicológica que a irá ajudar a reorganizar esses sentimentos. Lembre-se: “Nenhuma mulher nasce mãe, ela torna-se mãe” (Azevedo & Arrais, 2006 cit in Moraes & Crepaldi, 2011, p.61).   Bibliografia: Artigo: Moraes, M. H. C. e Crepaldi, M. A. (2011). A clínica da depressão pós-parto. Mudanças – Psicologia da Saúde, 19 (1-2), p. 61-67